terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Chesf se esquivaria da obrigação com o Baixo São Francisco


No último final de semana, o repórter fotográfico do Jornal Correio de Sergipe viajava por Propriá, a 122 quilômetros de Aracaju, quando percebeu que as croas (redução da palavra Coroa que denota a crosta de terra mais alta que quase forma uma ilha) do trecho do Rio São Francisco, que passa por aquele município, estão sumindo. Tal fato seria consequência da abertura de comportas nas barragens, assim como a erosão constatada nas margens do rio. E caso o volume de água aumente, haverá inundações em áreas de recreação e nos perímetros irrigados (plantio de arroz) nos municípios no Baixo São Francisco.
De acordo com o professor Luiz Carlos Fontes, um dos fundadores do Comitê do Baixo São Francisco e coordenador do laboratório Geo Rio Mar, pela própria dinâmica do rio essa época seria a de cheias, mas essa realidade foi transformada com a construção da barragem de Sobradinho, em 1978. Embora haja a regulação das cheias do rio por meio das barragens, em que não só a vazão seria menor como também mudanças na periodicidade, se anteriormente as cheias ocorriam em grande proporção anualmente (atingindo 12 mil metros cúbicos por segundo atualmente esse número é reduzido à metade) desde a construção da Usina Hidroelétrica de Xingó, levou 12 anos para que isso voltasse a ocorrer. “Nessa sequência de barragens o rio foi domado e isso trouxe várias consequências. Uma delas é que as barragens fizeram com que as cheias passassem a ser de menor vazão e mais espaçadas a ponto de passar 12 anos sem cheias após a construção de Xingó. Isso significa mudanças drásticas em relação à situação natural do rio”, declara.
Segundo Fontes, em sua maioria as mudanças seriam negativas para o ecossistema e que a Chesf, que é a empresa que domina o Rio São Francisco e obtém lucros na prestação do serviço de energia elétrica deveria ter um compromisso social e ambiental, mas na atual conjuntura estaria lavando as mãos para os problemas da região. “Tem muito mais mudanças negativas que positivas. De positivo que tem realmente só tem duas: uma seria a geração de energia elétrica, que é um bem para o homem, mas não necessariamente para o homem ribeirinho, mas principalmente para os de Recife, Fortaleza, Aracaju, Salvador, Maceió. O prejuízo fica para o ecossistema e para quem mora nas margens dos rios e os benefícios são para todos. Até essa energia elétrica chegou por último lá. Outra coisa é o controle das cheias sob o ponto de vista dos homens, que vão se instalando às margens do rio e as cheias passam a ser algo indesejado. Quando aquele é o espaço do rio que foi ocupado inadequadamente. Foi ocupado inadequadamente. Uma década sem cheias e o homem do Baixo São Francisco de modo geral passou a entender que as cheias não iam existir mais e por isso passaram a invadir ainda mais as margens, construindo casas. Hoje ocupam mais as margens e as áreas que são as primeiras a ser alagadas que antes. Primeiro é uma mudança cultural induzida pela própria barragem, pela própria gestão das águas dos rios e a Chesf  se limita a mandar ofícios de alerta aos órgãos e lavar as mãos como se não tivesse nenhuma responsabilidade sob isso. É a empresa que lucra, que fornece energia para toda a região nordeste, mas quanto ao Baixo São Francisco é uma empresa ausente. No meu entender ela faz muito pouco de responsabilidade social e o que faz é de forma muito espaçada. Não tem um compromisso com a totalidade da região, com o Comitê da Bacia do São Francisco”, explica.

Fonte: Correio de Sergipe

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